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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Confissões de duas malas extraviadas!

Como eu contei no post sobre o caos aéreo, cheguei no Brasil sem nenhuma das minhas malas, "sem lenço nem documento". Foi só então que percebi o quanto a gente (ou pelo menos eu) subestima o valor e a necessidade das coisas que trazemos numa mala. Quando eu estava aqui na minha casa na Suécia e fazia minhas malas, parecia uma coisa tão óbvia que simplesmente tudo que eu estava colocando ali dentro chegaria junto comigo ao Brasil.

Cheguei em São Paulo em cima da hora para o meu próximo vôo e quando fui fazer a reclamação das bagagens extraviadas com a Lufthansa fui informada que eu deveria abrir meu processo com a Tam, já que meu destino final seria Porto Velho. Tudo bem, cheguei às 16:30 horas, mas o guiche da Tam já havia fechado. Voltei às 22:30 horas para preencher o formulário de que minhas malas estavam extraviadas e que fossem mandadas para o meu endereço das próximas 2 semanas.

E com um pequeno detalhe: eu cheguei com a roupa do corpo sem nada além do meu computador e meus documentos, de calça, bota, blusa de manga comprida... Mesmo morta de cansada fui ao shopping comprar algumas coisas básicas pra que eu pudesse usar nos próximos dias sem mala, que eu esperava que fossem bem poucos!

Passou segunda, terça, quarta... Eu ligava para a Tam e eles diziam que a Lufthansa deveria entregar as malas para eles, já quando eu ligava para a Lufthansa, ficava sabendo que a responsabilidade era da Tam, já que o processo havia sido aberto com eles e não seria a Lufthansa a rastrear minha bagagem. A única informação que eu recebia, se ao menos isso, era de que as minhas malas ainda não haviam sido encontradas! Imagina meu desespero, até onde eu sabia, minhas malas podiam estar em Frankfurt, ou em Paris, ou em outra cidade européia, ou não, estariam em um universo paralelo? Como assim duas malas entram num aeroporto e não são registradas? Que tipo de sistema será que eles usam?

Nas minhas malas não vinham apenas roupas, dentro delas haviam muitos presentes, toalha de mesa para o natal, enfeites de natal (que eu falei pra minha mãe não comprar, já que eu traria), um álbum especial que fiz para os meus pais, a roupa que eu usaria no natal, inclusive uma das malas em si era um dos presentes para a minha irmã, comidas vegetarianas para mim e tantas outras coisas que somavam 38 kilos.


O desespero começou a bater, e o mais irritante de tudo isso são os espíritos de porco que a gente vai encontrando pelo caminho pra te dizer: "O pior é que as vezes eles nunca encontram, né??" ou "É capaz das malas chegarem aqui quando você já tiver voltado pra Suécia". Poxa, por que existe gente assim? Se não se tem nada bom pra dizer, é melhor ficar calado, certo?

Bom, meu pai acabou tomando minhas dores, e entrou em contato com um setor chamado "Fale com o presidente da Tam". Finalmente fomos bem atendidos, e por alguém que realmente parecia ir atrás do problema. Abrimos um protocolo e voltamos à esperar.

No sábado de manhã, 25 de dezembro, ligamos para saber se a Tam tinha notícias, e depois de muito insistir e pegar no pé, ficamos sabendo que as malas deveriam ter chegado no aeroporto de Porto Velho na madrugada de sexta para sábado, mas quando chegamos no aeroporto ninguém achou minhas malas. Cheguei realmente a achar que esse pesadelo nunca chegaria ao fim, e que talvez fosse possível que as malas tivessem sido roubadas em algum aeroporto.

No domingo meu pai já tinha ligado para Guarulhos e Cuiabá (onde as malas teriam feito escala) e ninguém estava com as malas. Ele foi então mais uma vez pessoalmente ao aeroporto. Um dos funcionários da Tam era inclusive meu amigo, e pediu que procurassem por malas que tivessem "Lua Dandara" escrito, mas pelo visto não tinha. Sem desistir, meu pai perguntou: "Não tem aí dentro uma mala cinza e uma vermelha???" Eles responderam que sim, mas que havia viajado com a Tap e não Lufthansa. Insistindo, meu pai disse: "Mas não será possível que as malas tenham viajado com outra companhia aérea?" Foi então que perguntaram: "Tem Rangel no nome dela??" É claro que tem!

Consegui recuperar minhas malas, mas não sem passar muito tempo no telefone, sendo algumas ligações interurbanas e internacionais, idas e vindas ao aeroporto, horas de preocupação e stress, noites mal dormidas, intensas reclamações com a Tam e muita paciência e esperança.

Com tudo isso eu levo de lição que eu devo marcar muito bem minhas malas, com fitas coloridas e com meu nome, endereço, telefone e email em lugares seguros que não caiam depois de uma longa viagem. De agora em diante, irei fotografar minhas malas, evitando o problema de eu não lembrar detalhes da aparência dela.


Por onde minha bagagem passou eu não sei, imagino que tenham vindo em caminhos separados, pois tinham datas diferentes e uma delas constava "Fortaleza". Se minhas malas falassem, provavelmente teriam muita coisa pra contar! Mas por enquanto, eu mantenho a minha versão da história!

Ps.: As fotos são do meu natal, pra alegrar um pouco o post! E a últma é a foto que tirei da minha mala na viagem de volta.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Coisas que se aprende depois de um caos internacional

- Mantenha-se informado (a), verifique sempre se seu vôo está confirmado/atrasado ou cancelado.
- Tenha seus documentos importantes e necessários num lugar separado, seguro e que facilmente possa pegar. Eu costumo usar uma pasta transparente, com os detalhes da passagem, o cartão de embarque e o passaporte juntos.
- No caso de cancelamento, caos e etc, muita calma nessa hora. No caso de atrasos e cancelamentos a empresa aérea tem obrigação de recolocar o passageiro em outro vôo e fornecer comida no caso de longos atrasos e acomodação em um hotel quando já é tarde da noite.
- Inglês é essencial, na hora de um caos é muito difícil haver tradutores nos balcões ajudando quem não consegue se comunicar.
- Priorize o que você tem que fazer. Na maioria das vezes, comer e ir ao banheiro, pode esperar.
- Mantenha-se concentrado (a) na sua missão: resolver seu problema, seja arrumando um hotel pra ir dormir, conseguir entrar em outro vôo que não tenha sido cancelado ou conseguir a mesma viagem de trem/ônibus (quando isso é possível).
- Acredite que você vai achar uma saída, pode ter certeza que sentar num canto e chorar não vai ajudar em nada. Respire fundo.


- Seja educado (a). Na Europa as coisas não funcionam no grito nem com barraco. Pelo contrário, você pode acabar entrando numa fria, sendo considerado suspeito e/ou perigoso, correndo risco de ser deportado.
- Seja objetivo, explique seu problema e a solução que você procura. Não fique reclamando de tudo e enchendo linguiça, provavelmente existem muitas outras pessoas passando pelo mesmo problema que você que também precisam de informações e ajuda.

Pra resumir, a chave do sucesso é mesmo ter calma e correr atrás do que se quer. Mas também, acho que isso se aplica em muitas situações nessa vida, não é mesmo?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Em terras escandinavas...E meu dia de caos!

Gente, estou viva! :)

Depois da minha viagem super "the-flash" ao Brasil, cheguei de volta à Suécia já em cima da hora para estudar para uma prova, então apesar de já estar de volta há quase 2 semanas, só agora tive tempo pra sentar e escrever. Ainda bem que a tal prova já passou, se fui bem ou não ainda não sei, mas por enquanto não vou me permitir ficar preocupada com isso.

Minha viagem pro Brasil não foi bem como planejada, mas também aprendi muito com os problemas que tive. Quem ligou a televisão nos noticiários na semana anterior ao natal deve ter visto a caos aéreo que estava na Europa por conta da neve... Adivinhem? Eu estava lá! haha E posso dizer uma coisa com certeza: ficar presa num aeroporto internacional o dia inteiro é um inferno! Não desejo pra ninguém o que eu passei.

Pra começar, na noite anterior à minha viagem, vi na internet que meu vôo com a KLM já estava cancelado! Fui para o aeroporto mesmo assim, cheguei lá às 04:30 da manhã e ao invés de fazer o trecho Gotemburgo - Amsterdam - São Paulo durando 15 horas, me recolocaram em outra rota, que seria Gotemburgo - Frankfurt - Paris - São Paulo... que duraria 26 HORAS!!! Incluindo 7 horas de espera no aeroporto de Frankfurt + 4 horas de espera no aeroporto de Paris. Até aí, tudo bem. Eu tinha um livro, meu laptop, ipod, celular... Às 07:40 saí de Gotemburgo e menos de 2 horas depois cheguei em Frankfurt.


Cheguei em Frankfurt e fiquei passeando pelos terminais do aeroporto, indo pra cima e pra baixo, tomei um café, usei o computador, liguei pro Eric, pros meus pais... Depois almocei e fui procurar meu portão para pegar o vôo para Paris. Mas 1 hora antes do vôo vem a notícia: o vôo foi cancelado! Nessa acabei encontrando outra brasileira, Bruna, um pouco mais nova que eu que estava na mesma situação. Juntas corremos atrás da Lufthansa para tentar pegar um outro vôo para Paris. Mas depois de conseguir passagens e esperar mais umas 2 horas, descobrimos que o outro vôo também havia sido cancelado, e que ninguém voaria para Paris aquela noite, tinha começado a nevar e o aeroporto Charles de Gaulle estava fechado. Já era quase 18:00 horas.


Bruna e eu tinhamos o mesmo destino, e as mesmas passagens, então fomos juntas tentar resolver o problema. Mas haviam milhares de outras pessoas com seus vôos também cancelados, e o aeroporto de Frankfurt, estava um caos completo.


Mas por algum motivo, um anjo apareceu ao lado da Bruna, com uma senha para sermos atendidas pelo ticket-office da Lufthansa, na frente de centenas outras pessoas. A senha era das 15:35 horas, já era mais de 18:00 e nosso número era 661. E estavam ainda no número 600!

Esperamos...esperamos...às 21:00 horas fomos finalmente atendidas, por uma alemã de mal humor que rapidamente disse: "Não estou mais remarcando passagens, vou colocar vocês num hotel". O que eu ía fazer? Eu tinha que estar na manhã seguinte em São Paulo, já que eu já tinha uma outra passagem marcada para viajar para Rondônia nessa mesma manhã, com a TAM, mas com um detalhe: saindo do aeroporto de Congonhas, não de Guarulhos.


Mesmo achando que seria em vão, eu comecei a falar: "Senhora, por favor, a Lufthansa cancelou nosso vôo para Paris, mas nosso vôo Paris - São Paulo com a TAM não foi cancelado. Nós sabemos que tem um (único) vôo saindo de Frankfurt direto para São Paulo às 22:00 horas, e nós gostariamos de tentar pegar esse vôo." Enquanto eu falava a senhora que me atendia olhava para a tela de seu computador, e até onde eu podia perceber, ela estava me ignorando completamente. Até que ela se virou para mim e falou "Eu posso colocar vocês na lista do vôo da Lufthansa direto para São Paulo, mas o vôo está cheio e o embarque vai começar daqui a pouco em outro terminal. Vocês terão de correr muito e ter MUITA, MUITA sorte, e já tem outras 20 pessoas na lista de reserva." Eu mal podia acreditar no que eu estava ouvindo...E falamos que sim, que queriamos tentar. Eu perguntei: "Mas e as nossas malas?" Ela, dramaticamente e séria falou: "Esqueça suas malas. Boa sorte, corram!"

Eu estava tão cansada, fazia 6 horas que eu não comia algo decente (exceto as barras de chocolate e a àgua que estavam dando no aeroporto para as pessoas presas no caos), já tinha andado tanto...mas nós corremos mesmo assim, com bolsas de mão pesadas, casaco e cachecol pendurados nas bolsas...fomos correndo pelo aeroporto torcendo que um milagre fosse possível.

Chegamos no portão do vôo para São Paulo, e havia centenas de pessoas sentadas esperando pela chamada de embarque. Nós teríamos de esperar o embarque de todo mundo pra depois saber se haveria ou não lugar no avião. A demora parecia eterna, mas todo mundo entrou e começaram a chamar alguns nomes. Até que chamaram a Bruna primeiro, e eu falei "E eu, moça? Nós fizemos a reserva juntas" Ela me perguntou meu sobrenome e falei que era Rangel e ela pegou meu passaporte e em alguns poucos minutos eu tinha nas minhas mãos a minha passagem de vôo direto: Frankfurt - São Paulo. Meus olhos encheram de lágrima, eu não conseguia acreditar que nós realmente tínhamos conseguido passar por aquele furacão e sair da Europa no mesmo dia.

Já dentro do avião eu sentei, ainda meio fora de mim, agradecendo ter conseguido entrar... Demorei bastante tempo para perceber que no assento não tinha televisão, mas depois de tudo aquilo, eu viajaria no banheiro ou até sentada no chão.


Logo antes do avião decolar, já andando pela pista o piloto nos disse "Boa noite, passageiros. Nós devemos nos considerar com muita sorte por conseguirmos sair de Frankfurt essa noite!" Olhei pela janela do avião e vi que havia começado a nevar e entendi como aquele dia apesar de tudo foi mesmo de muita sorte... nós decolamos, e saímos da Europa num vôo tranquilo.

Chegamos em São Paulo na manhã seguinte às 07:30 (horário de Brasília), minhas malas, obviamente, não vieram. Encontrei minha irmã às 09:00 e corremos para o aeroporto de Congonhas, e chegamos na hora certa para fazer o check-in.

Cheguei em Rondônia de bota, calça, blusa de manga comprida, casaco e cachecol no braço, meu computador e minha bolsa de mão. Sem malas, sem nada... no calor de 30 graus.

Mas já o dilema das minhas malas extraviadas é um outro capítulo...

Se vocês se cansaram de ler esse post (que realmente ficou gigantesco), imagem viver esse dia! Mas tudo vira uma experiência de vida e uma boa história pra se contar!