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terça-feira, 13 de maio de 2008

Ode ao gato

ODE AO GATO - Arthur da Távola


"Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso.
Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos.
O só pedir a quem amam.
O só amar a quem os merece.
O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência,obediência.
O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor.
Só as saudáveis.
Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observaçãode alguns anos me deu.
Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado?
Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor?
Quem sabe São Franciscode Assis não está por trás do Mago Merlin,
soprando-me o artigo?
Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo,
obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não!
Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo.
O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentilezade ganhar a vida por ele.
O leão e o tigre se amesquinham na jaula.
Gato não.

Ele só aceita uma relação de independência e afeto.
E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente,
é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso.
"Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto comtroca e respeito pela individualidade.
O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor.
Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte.
Sábio,é espelho.
O gato é zen.
O gato é Tao.
Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação.
Nada pede a quem não o quer.
Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se.
Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige.
Sim, o gato não pede amor.
Nem depende dele.
Mas, quando o sente, é capaz de amar muito.
Discretamente, porém sem derramar-se.

O gato é um italiano educado na Inglaterra.
Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.
Quem não se relaciona bem com o próprio inconscientenão transa o gato.
Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério.
O gato não se relaciona com a aparência do homem.
Ele vê além, por dentro e pelo avesso.
Relaciona-se com a essência.

Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis(mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe.
E se defende do afago.
A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver.
Por isso, quando surge nele um ato de entrega,de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado.
É um gesto de confiança que honra quem o recebe,pois significa um julgamento.

O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem.
Se há desarmonia real ou latente, o gato sente.
Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós).
Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos,ele se afasta.
Nada diz, não reclama.
Afasta-se.
Quem não o sabe "ler" pensa que "ele não está ali.
Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo.
Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca)sabemos traduzir.

O gato vê mais e vê dentro e além de nós.
Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores.
O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo.
É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção,silêncio e mistério.
O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber.
Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge,a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremoso caminho na sua busca, em vez de o querer preparado,já conhecido e trilhado.

O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante,à certeza de que cada segundo contém a possibilidadede criatividade e de novas inter-relações, infinitas,entre as coisas.
O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel.
Suas manifestações são íntimas e profundas.
Exigem recolhimento, entrega, atenção.
Desatentos não agradam os gatos.
Bulhosos os irritam.
Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação.
Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências.

Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene)a si mesmo como o gato!
Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga.
Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos.
Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata.
Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato,os jogadores reservas não levariam tanto tempo ( quase 15 minutos)se aquecendo para entrar em campo.
O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo.
Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada partedo seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.

Lição de saúde sexual e sensualidade.
Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias.
Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal.
Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular.
Lição de salto.
Lição de silêncio.
Lição de descanso.
Lição de introversão.
Lição de contato com o mistério,com o escuro, com a sombra.
Lição de religiosidade sem ícones.
Lição de alimentação e requinte.
Lição de bom gosto e senso de oportunidade.
Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa,educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.

O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem."

Artur da Távola
Uma singela demonstração da minha admiração pelos gatos, em especial, minha eternamente querida, Cléo. E também a amarela e serelepe Millie, que não conheço mas amo.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Buenos dias!!!


No fim de semana prolongado por conta do 1º de maio, viajei com meus pais para o exterior. Bom, cruzamos a fronteira até a Bolívia! hehe. Fomos de carro numa viagem super tranqüila para Guajará-Mirim. Lá, tem um barco tipo voadeira, mas um pouco maior, que cruza a fronteira até a Bolívia. O rio estava super cheio (por conta das chuvas-sem-fim)...e invadindo a cidade...a correnteza ía forte e dava medo só de imaginar atravessando naqueles barcos tão frágeis à imensidão do Rio Mamoré...Ventava muito muito...tive que prender meu cabelo pra não comer shampoo. Assim que entramos eu já vesti um colete salva-vidas laranja vivo, não que isso seja lá muito "salvante", mas enfim...fomos e deu tudo certo. A passagem custa 3 reais, mas juro que pagaria mais se incrementassem a segurança dos passageiros.


Chegando lá já se notava a diferença. As pessoas têm feições diferentes, e pobreza era mais viva do que do lado de cá. Lá não há táxis normais (não que eu tenha visto), são moto-táxis ao invés, uma moto com uma carroceria de 3 assentos atrás. Um tanto "cool".Fizemos muitas compras, afinal era esse o motivo de estarmos lá. Tudo é muito mais barato, algumas coisas de boa qualidade, outras nem tanto. Ganhei uma câmera digital, e diga-se de passagem, isso significa muitas mais fotos que poderei postar aqui! Já que a do meu pai é pesada, grande, complicada e dele, não minha! hehe


Do lado de lá pude praticar um pouco de espanhol, mesmo que eles entendam quase tudo em português. Mas era divertido falar coisas como "mira a cá" ou "una jaqueta de cuero"...
Fazia um friozinho gostoso, até usei jaqueta...Já presenciei muito frio na vida, mas vamos combinar que quem é acostumado com o clima super tropical da Amazônia que varia entre 30ºc e 40ºc graus, é de se estranhar ter que vestir qualquer peça de mangas longas.
(Ps.: No dia dessas fotos estava quente pois estava bem ensolarado, mas fez frio no dia que chegamos).

Na Bolívia, não é muito aconselhável comprar comida. O dia que você ver, entenderá. hehe. Sem comentários.De volta ao lado brasileiro,comemos peixe num restaurante que era aberto, o vento corria solto. Havia um cachorro e duas gatas jovens e sem-teto...eu jogava pedaços de peixe e a pele que eu não gosto, e eles devoravam em segundos...a Cléo, minha gata siamesa, jamais comeria aquela pelinha. Saibam que não é possível existir um ser mais fresco que aquela gata, no entanto, ela é extremamente adorável.


A viagem de volta no carro foi tão tranqüila quanto a ida...cheia de música. 350 km de estrada e de volta estamos.

Beijo no coração!!